Ecleticando: Rubem Alves - A amizade

Ecleticando: Rubem Alves - A amizade: "Rubem Alves (do livro 'O retorno e Terno') Lembrei-me dele e senti saudades... Tanto tempo que a gente não se vê! Dei-me conta, com uma ..."

Aquilo que não é

vento

 

O que seria da vida se todas as questões fossem fáceis?

Minha vida não está laçada a sua

Meu coração não te pertence.

Mas há algo que nos envolveu.

Sim, eu sonho, eu penso numa outra vida

Quero saborear as noites

Dançar abraçada de fazer inveja a qualquer outro casal

De beijar e ser beijada ardentemente

De fazer amor uma vez e outra vez

De realizar cada desejo íntimo seu

Sim, ser rica e feliz

Mas a que preço?

Quantas pessoas eu preciso ferir e magoar?

Qual o preço de viver essa fantasia criada em mim?

Minha vida não é sem graça ela tem o sabor e o tempero que dou

As muitas possibilidades me cercam e escolho as que podem de alguma forma alterar para o bem o que já está em minhas mãos.

Meu conto de fadas eu criei anos atrás

Hoje a princesa envelheceu, sonha não mais com casinhas e bonecas

Hoje necessita se sentir viva e amada

E assim é

Mas ainda quer outra forma

De tornar muito mais intenso

Aquilo que não é.

Quanto, quanto me queres?

 

 

 

Quanto, quanto me queres? - perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.

Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida...

Beijámo-nos, então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar...

Não perguntes, não sei - não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

António Botto


( 50 anos da sua morte)