E tudo mudou...
Fizeste meu cálice transbordar
Meu corpo tremer
Minha alma descansar
Me deste refrigério
Encontraste um oásis para nós
Um pouso, uma pausa
Sorrimos e descansamos
Eu nos seus braços
Você no meu afago.


Sinto saudades
Daquela pessoinha
Que me abraça com tanto desejo
Que me beija com tanto carinho
Que me olha e me quer.
Na minha mente não sai a tua lembrança
Corro por diante do mar
Olhando, procurando.
És minha fraqueza
És meu calcanhar de Aquiles
A ti não posso dizer não
És o que me fazes bem e mal
És minha vida e também morte.


Hoje li a expressão “navego impreciso”.
Respostas exatas não existirão para muitas de minhas questões por isso vou tateando, ciente da graça de Deus, ciente de que sou essa obra em construção.

Na vida, no real, na ora das escolhas, não existe o olhar romântico e poético, existe você e a vida, a escolha e as conseqüências. Você pode se preparar como um atleta se prepara para uma corrida, mas na hora da corrida sobrevirão muitos imprevistos que poderiam ou não ter sido avaliados antes... e você vai..você segue... e em momentos você se acha inexperiente, em outros sortudo, em outros despreparado, em outro muito inteligente, em outros uma porcaria. E em resumo de tudo o que nem eu sei o que quero dizer eu navego impreciso.

Eu vou sem nem saber ao certo o que quero.

Navego e navego impreciso.
Meu coração hoje sente e vive o que há quase dois anos não vive, não sente. Que bom é sentir a eternidade pulsando dentro de mim, que bom é sentir que a vida pulsa e pulsa nesse mundo louco, caído...


O Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo, é o mesmo que tira o pecado do mundo. “Tira”, que no grego significa tirou, tira e tirará.



Esse é o amor me constrange. É diante desse Deus que me dobro, me curvo, me entrego, diante desse Deus me aceito, me vejo.


Levo dias construindo uma fortaleza
Segundos para tudo ser esmiuçado
Tudo vai ruir
É só uma questão de tempo
É uma luta solitária
Unilateral
Quais as chances disso dá certo?


Criaste-me do pó
Deste-me fôlego e me pôs entre os viventes
Agora sinto essa agonia
Essa fobia
Esse turbilhão dentro em mim
Ora amo, ora odeio
Ora vivo, ora pareço morrer
Ora sinto-me leve, ora sinto-me pedra
Dores no peito
Flertes na alma
Inquietações no espírito
Eis-me aqui
Ora agradecida
Ora revoltada
Ora apaixonada
Ora amargurada
E nenhuma novidade há nisso
Sou diferente de alguém?
Não, não sou...
Sofremos as mesmas angustia nesse chão.


Ciclo...
Odeio-te hoje para amanhã desejar-te fervorosamente
Hoje ponho em dúvida teu caráter
Para não querer saber de ti
Amanhã te perdôo para te trazer junto a mim
Hoje sinto indignação pela omissão de fatos
Amanhã já nem me importarei
Hoje tanto faz tua presença
Amanhã será insuportável tua ausência
Nesse indo e vindo
Nesse querer e não querer
Pareço não saber viver sem você
Pareço conseguir seguir apesar de você
Uma história inventada para mim
Um amor livre, aberto
Uma paixão que odeia para justificar meu adeus e te manter distante
Tendo o pretérito mais que perfeito como angústia do verbo amar
Conjugando assim na alma o gerúndio
Esperando um amanhã que possa sem privações se entregar
Que não saberá conviver com tua vida longe da minha.
Amado desprezado.


Do Desejo
de Hilda Hilst

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)

* * *

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)

* * *

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)


Se eu me confirmar e me considerar verdadeiro, estarei perdido porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele.Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesmo, e sem sequer precisar me procurar.Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que me achar seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?

Clarice Lispector


Dia trágico para um poeta


Sem amor, sem paixão

Daquelas que esquenta o sangue,

A mente

A alma.


O sonho foi arrebatado pela rotina

Pela realidade

Pela fatalidade.


No banco vazio me encontro

Sem nada aguardar

Sem nada a pedir.


A paixão anda por aí

E invejo os apaixonados

Hoje a aquecer seus corpos

Sentindo a explosão dos sentimentos arrebatadores

Perdendo o fôlego em beijos incessantes,

Ah como os invejo.


A mim resta uma taça de vinho

A solicitude

As palavras desordenadas

E a mente a procurar um lugar para pousar.



Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das sensações,
tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer
o pão dado da Fantasia. De meu pai sei o nome; disseram-me que se chamava Deus, mas o
nome não me dá idéia de nada. Ás vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro,
e faço-me uma idéia dele a que possa amar...Mas depois penso que o não conheço, que talvez
ele não seja assim, que talvez seja nunca esse o pai da minha alma...
Quando acabará isso tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde
encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me
viesse buscar e me levasse para a sua casa e me desse calor e afeição...Ás vezes penso isto e
choro com alegria a pensar que o posso pensar...Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as
folhas caem no passeio...Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum...E de
tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis par seu
filho adoptivo, nem nehuma Amizade para seu companheiro de brinquedos.
Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, ó Vento, a minha Mãe.
Leva-me na Noite para a casa que não conheci...Torna a dar-me, ó Silêncio imenso, a minha
ama e o meu berço e a minha canção com que eu dormia..."

Fernando Pessoa


Sinto-me só, num mundo vazio

É estranho dizer

Mas o que acontece dentro da alma é pouco claro

Sei que meus pensamentos te buscam
Ansiando aplacar essa solidão

Meu corpo sente falta do teu

E em mim habita a interrogação de saber quem és tu.


Moras na minha angústia

na minha dúvida

na minha paixão.


Não sei se é assim que deve ser

Sei que deve ser mesmo assim

Buscando a liberdade em sermos

Mesmo sem saber ao certo ser.


Meu amor

Meu segredo

Minha saudade


Existes em mim e para mim.


Deixa eu te encontrar,
Por onde você anda?
Preciso cantar junto a você
Ultimo Romance
Será que é tarde demais?
Será que alguém poderá me roubar de mim?
Quisera eu poder falar do amor
Sentir esse amor
Viver o amor.
Mereço-me isto?
Terei um dia o prazer de dormir e acordar banhada nessa paixão?
Poderei ver o dia nascer com o peito explodindo de gratidão?
Poderei contemplar o por do sol sentindo meus lábios passeando nos lábios do meu querer bem?
Quantas dores é preciso sentir, quantas mortes terei que passar para chegar a esta vida?


A gente vive por aí.. indo e vindo, eu porém querendo encontrar sentido
Na vida, no amor, na paixão, na poesia...
Se sou o inconsciente em mim sou a mistura de tudo que vejo
O que sou?
Ah não.. de novo isso?
O que sou...
Ah sou esta consciência aguda de abandono e de solidão (voluntária ou não).
Não me julguem, não me definam.
Sou os meus pensamentos vastos.


Eu sigo nessa estrada,
Sei quem e como sou esse paradoxo não habita em mim
O que não significa que sei administrar
O que sinto
O que quero
Sinto como esses poetas que dizem que o futuro habita no passado
Ou como os que afirmam sentir saudade do que ainda não viveu.
Meu paradoxo habita em outra esfera
E sinto um constante mergulhar em mim
E a cada volta à superfície um novo questionamento.
Sinto algumas vezes vítima de mim,
Os outros vítimas-reféns de mim
Eu agraciada pela alma que busca sempre algo
A fome pelo o que construo em pensamentos
O anseio pela concretização de belas ilusões
Fascinada pela literatura que envolve a complexidade do ser
E me vejo também na contra mão dessa máquina que penso compreender
Desejando a simplicidade que não tenho
Invejando os que vivem conformados
Os que sabem não pensar demais, sentir demais
Os que se mantiveram distantes do fruto do conhecimento do bem e do mal.
Não busco saber quem sou
Busco manter em equilíbrio o vulcão que há em mim
Como se pudesse conter um vulcão!
Não sou melhor
Nem especial
Nem diferente
Eu sou essa poeira.